O choro do funcionário público
Marcos Elias Jacobsen, 58, ao deixar o hospital de Joinville (SC) onde estava
internado resume o alívio que ele sentiu diante de uma longa trajetória de
renascimento. Após contrair a Covid-19 e superar diversas complicações, a
esperada alta só veio depois de nove meses e 16 dias de hospitalização, nesta
quinta-feira (8).
“É o tempo de uma gestação, é
um nascer de novo”, disse. Assim como um bebê, ele conta que está tendo que
aprender várias atividades novamente, como andar e comer sozinho, mas as
limitações não o desanimam diante da cura, que considera um milagre.
“Já estou aliviado sabendo que
sobrevivi, ainda preciso de ajuda para me alimentar, caminhar, mas com a
fisioterapia acredito que vou me recuperar logo”, afirmou.
Do tempo total de internação,
Jacobsen passou 58 dias na UTI. Além do comprometimento pulmonar, ele desenvolveu
insuficiência renal, úlcera e trombose e por um tempo ficou totalmente
dependente dos aparelhos que estavam conectados em seu corpo. A família chegou
a ser informada de que, se ele sobrevivesse, teria graves sequelas.
“Cada vez que o telefone
tocava era uma tortura, sempre pensando em notícia ruim. Cheguei a deixar o
celular no silencioso para só sentir quando estava tocando porque ouvir era
muito traumático”, contou a esposa de Marcos, Silvia Jacobsen, 54.
Mas a recuperação veio aos
poucos, a ponto de os rins voltarem a funcionar. Ele ainda precisa retornar
diariamente ao hospital para trocar curativos e, na segunda-feira (12), inicia
as sessões de fisioterapia para recuperar os movimentos, principalmente dos pés
e mãos, os mais comprometidos pelo tempo em que não pôde se movimentar.
“A gente se apegou a nossa fé
e esperança para que ele conseguisse lutar e sobreviver. Ele é forte,
determinado, alegre e de bem com a vida, mas, quando se encontra assim, a gente
fica muito fragilizado”, relembrou Silvia dos O bom humor foi um dos
ingredientes essenciais para a cura, segundo o paciente. Marcos não se deixou
abater mesmo tendo sido internado após a morte do irmão, também por Covid-19,
em julho do ano passado. A esposa dele também contraiu a doença, mas não teve
sintomas.
“Pra gente evitar o estresse,
sempre gostei de uma piada, uma brincadeira, e eu fazia para descontrair o
pessoal do hospital. Da parte deles, foi tudo muito amoroso, um tratamento
muito humano, foi um tempo de muito aprendizado que vou levar para o resto da
vida”.
Uma das companheiras de
diversão foi a sobrinha Luana Carolina Batista, 33. Modelo e digital
influencer, ela deixou os compromissos de lado para ajudar o tio, a quem
considera como pai, durante os sete meses em que ele ficou no quarto, podendo
receber visitas. A convivência rendeu diversos vídeos descontraídos nas redes
sociais.
“Eu sempre estive presente,
desde o primeiro dia, mesmo quando ele estava na UTI, para dar esperança e
força. Depois, acabei me desligando um pouco dos meus trabalhos, muitos me
criticaram, mas eu tinha meu tio para cuidar”.
Silvia e Luana também
registraram o dia a dia da recuperação no Instagram de Marcos. A ideia inicial
era de mostrar as lembranças para o próprio paciente, já que ele mesmo não se
lembra do período mais crítico da internação. Mas os vídeos acabaram servindo
também como inspiração para outros familiares de pacientes de Covid-19.
“Sempre tem alguém que relata
que algum familiar está como ele estava, que está se inspirando na gente para
se recuperar. Foi um feedback bem legal que nem pensamos, e é o mais importante
na verdade: fazer o bem. De tanto bem que nós recebemos é inaceitável que a
gente não possa repassar essa graça”, disse a esposa.
Para Marcos, o renascimento a
partir da Covid-19 também vai significar uma nova fase de vida. “Agora vou ter
que aproveitar a vida, porque às vezes ficamos muito bitolados com o trabalho.
Vou me aposentar e sossegar um pouco. Ficar mais com a família e curtir os
amigos”.