“Nesta última semana, fiquei
muito doente, como nunca fiquei antes. Eu estou infectada com a covid-19 e
minha família também. Quando comecei a ficar doente na terça (dia 10 de março),
eu só estava com dor de garganta e febre baixa, fui melhorando e na quinta-feira
fui para escola. Na sexta-feira, meus pais me contaram que meu avô, que é
médico, achava que estávamos com covid-19. Eu fiquei um pouco assustada e
triste porque queria muito brincar com meus amigos na escola, mas, para
prevenir e não infectar meus colegas, não fui para a escola.
No sábado, minha irmã mais
nova (Laura, de 10 meses) ficou muito doente, coitada! A febre dela alcançou
42ºC! Meu avô mandou minha mãe levar minha irmãzinha para o hospital e eu
fiquei com meu pai. Lá, ela fez alguns exames, como por exemplo o do
coronavírus e ela foi internada durante o fim de semana. Todos os resultados de
exames da minha irmã deram negativos, menos o do coronavírus que deu
“indetectável”. A Laurinha voltou pra casa na segunda-feira.
Uns dias depois, eu comecei a
ficar com falta de ar e tontura, então minha mãe me levou para o hospital. Lá,
fiz vários exames: de sangue, de narina e um raio X. Como já achavam que
estávamos com coronavírus, todos os exames foram feitos na sala de isolamento.
Foi legal fazer o raio X. Depois dos exames, o médico me mandou para casa,
estava muito tarde.
Como ainda estava com muita
falta de ar, o meu avô pediu para a minha mãe alugar um cilindro de oxigênio
que parece um botijão de gás. Mesmo fazendo inalação com o inalador e com o
oxigênio, eu comecei a me sentir pior.
Então, dois dias depois,
voltamos para o hospital. Eu estava com muita dor no peito, dificuldade para
respirar e também estava muito cansada. Quando chegamos ao hospital, a minha
médica me examinou e disse que eu teria de ser internada na UTI. A médica do
hospital é minha endocrinologista (Maya é acompanhada porque tem síndrome de
Turner, uma condição genética que afeta o crescimento. Segundo os médicos disseram
à mãe, a síndrome não influenciou no quadro da covid-19), se chama Laura, igual
minha irmãzinha, eu adoro ela! Tive de fazer vários exames de novo. Um exame
foi bem legal porque parecia que eu estava numa nave espacial.
Quando cheguei à UTI, não podia
sair da sala nem para fazer xixi Fiquei triste porque não queria ter de dormir
no hospital. Tive de fazer um exame para ver se meu coração estava bem, e ele
estava. No dia seguinte, minha mãe ficou muito nervosa porque meu pai estava
muito doente e ela não podia sair do hospital (o pai, o artista plástico
Joaquim de Almeida, de 38 anos, é ex-atleta profissional). O médico viu que eu
estava um pouco melhor e me deixou ir para o quarto. Lá, eu fiquei mais um
tempo
Quando finalmente fomos para
casa, não pude dar abraço no meu pai porque não sabíamos se ele estava com uma
bactéria. Assim que chegamos em casa, ele foi para o hospital. Viram que ele
estava com pneumonia bacteriana porque a covid o deixou muito fraquinho. Desde
que chegamos em casa, minha mãe tem cuidado de todos nós. Ainda não estou 100%
nem meu pai e a Laurinha. Mas daqui a pouquinhos estaremos todos bem.”
(Depoimento a Cristiane
Barbieri - Estadão)