O Paraná é o estado brasileiro
que apresenta maior urgência no aumento de sua cobertura vacinal para conseguir
conter a pandemia de Covid-19. É o que aponta um estudo publicado pelo grupo de
pesquisa interdisciplinar Ação Covid-19, formado por pesquisadores de diversas
áreas do conhecimento associados a 13 instituições, incluindo Maria Carolina
Maziviero, professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Os autores analisaram qual
seria a porcentagem mínima necessária de população vacinada, em cada estado, a
fim de conter a expansão da pandemia. A estimativa foi feita para o mês de
abril de 2021, em comparação com dezembro de 2020, janeiro e fevereiro de 2021.
Para isso, eles se basearam no número de casos de Covid-19 confirmados e na
cobertura vacinal, abrangendo primeira e segunda dose de imunizantes.
Maria Carolina explica que o
controle da pandemia, ou seja, a diminuição no alastramento do vírus ocorre
quanto a taxa de transmissão fica abaixo de um (R0< 1). “Significa que cada
pessoa infectada transmite para menos de uma outra pessoa, o que indica redução
do número de infectados”. Se a taxa é menor do que um, menos pessoas são
infectadas e o número de casos retrocede. Atualmente, nenhum estado brasileiro
apresenta R0< 1.
Comparando o mês de abril com
os demais períodos avaliados, os pesquisadores concluíram que é alto o número
de estados em situação crítica, ou seja, que ainda precisam vacinar, pelo
menos, mais 25% da sua população, com as duas doses, para conter a expansão do
coronavírus. Os aumentos mais significativos na porcentagem necessária de
vacinação foram observados no Mato Grosso e em Tocantins, indicando uma piora
do cenário epidêmico desses estados.
O Maranhão tem se apresentado
como um destaque positivo dessa série de estudos e, desde dezembro de 2020,
demonstra as menores necessidades de imunização entre todos os estados do
Brasil. Apesar de ter aumentado a necessidade de vacinação nos meses
posteriores, reflexo da piora da pandemia em todo o país, a região ainda se
mantém abaixo das demais e deve conseguir conter a pandemia mais rapidamente.
Paraná
O estudo referente ao período
avaliado (19 de abril a 19 de maio) indica a tendência de um aumento urgente na
necessidade de vacinação no estado do Paraná. De acordo com os pesquisadores, o
cenário se apresenta dessa forma devido à situação crítica que o estado se
encontrava no início de março, com a ocupação de leitos de UTI atingindo mais
de 95%, com o isolamento social em queda (46% em média) e com o aumento no
número de casos. “Na metade do mês, esse panorama se agravou com a taxa de
ocupação de UTI chegando a 100%, além da falta de oxigênio, a contínua queda no
isolamento, que atingiu 35%, e a falta de vacinas”, revelam os especialistas.
A análise também demonstra que
a situação passou a apresentar sinais de melhora após a entrega de novos lotes
de imunizantes e do decreto que instituiu medidas de contenção ao coronavírus,
restringindo a circulação de pessoas. “Como consequência, o isolamento subiu novamente
para uma média de 45%. No fim do mês de abril, o estado apresentou queda na
taxa de contaminação e o menor número de casos de Covid-19 desde novembro de
2020”.
No entanto, depois de um novo
relaxamento das medidas restritivas, o contato de pessoas suscetíveis ao vírus,
que estavam então isoladas, aumentou, assim como o número de casos e óbitos.
“Isso se refletiu na elevação do ranking de urgência para a maior prioridade de
vacinação entre todos os estados brasileiros”, diz o relatório. Atualmente, o Paraná
precisa vacinar, com as duas doses, pelo menos 56% da sua população para
atingir o número necessário para controlar o aumento da pandemia, mas somente
9,72% foram vacinados.
Cenário no Brasil
Até o dia cinco de maio de
2021, o Brasil havia vacinado 33.404.33 pessoas com a primeira dose e
17.039.463 com o reforço do imunizante, o que corresponde a 16% e 8% da
população total, respectivamente. A análise referente ao mês de abril deste ano
apontou que houve elevação da porcentagem de imunizados em todas as regiões do
país, mesmo que abril tenha sido marcado por uma queda acentuada no ritmo da
vacinação.
O cenário da pandemia
analisado mostra a diminuição da necessidade de imunização mínima da população
em 13 dos 27 estados. Em compensação, a situação se agravou em oito estados.
Também é possível observar que 13 estados ainda necessitam vacinar mais de 40%
de sua população para que se inicie uma redução significativa e contínua do
número de casos de Covid-19.
Os pesquisadores alertam que a
prioridade de vacinação de cada estado não está sendo leva em consideração na
distribuição das doses pelo Ministério da Saúde. “Isso é evidenciado quando
observamos que São Paulo, Amazonas e Maranhão vacinaram em torno de 30% do
estipulado como necessário para controlar o aumento no número de casos.
Enquanto isso, Amapá, Rondônia e Acre vacinaram menos de 14% da cobertura vacinal
mínima ideal”.
Diante destes aspectos, os
autores argumentam que é urgente e necessário que os modelos de análise do
panorama nacional sejam utilizados para elaborar mapeamentos estratégicos para
o enfrentamento da pandemia no país. “Criando um ranking de urgência e
realizando análises periódicas de todos os estados é possível, por exemplo,
localizar os pontos de atenção, os déficits de cobertura da vacinação,
sinalizar subnotificações e, com isso, chegar cada vez mais próximo de um plano
nacional e conjunto de luta contra a pandemia”.
Metodologia
O estudo calcula o número de
reprodução básico, denominado R0, que corresponde ao número de infecções
secundárias causadas por uma pessoa infectada em uma população suscetível ao
vírus. O valor do R0 indica uma expansão (R0 >1) ou um recuo na transmissão
do coronavírus (R0,<1). O R0 menor do que 1 não representa um controle total
da pandemia, mas sim que o número de novos casos está em tendência de redução.
Para calcular o R0, os
pesquisadores ajustaram um modelo clássico na epidemiologia, o modelo SIR, que
considera três compartimentos para a divisão da população em relação à doença
estudada: Suscetíveis (S), Infectados (I) e Recuperados (R). Adicionalmente,
eles usaram equações para encontrar os valores ótimos de dois parâmetros do
modelo SIR.
Por meio desse método, é
possível determinar, aproximadamente, a proporção da população que deve ser
imunizada em um período, a fim de resultar em um R0 abaixo do limiar de 1.
As informações são da
assessoria de imprensa da UFPR.