Você já ouviu falar do
‘estelionato amoroso’ ou também conhecido como ‘golpe do Tinder’? O assunto deu
o que falar nas redes sociais após o lançamento do documentário “O Golpista do
Tinder” na Netflix. O filme conta a história de Simon Leviev, um israelense
charmoso e inteligente, que usou o aplicativo de relacionamento para enganar
dezenas de mulheres e tomar delas mais de US$ 10 milhões de dólares. Segundo a
Polícia Civil, o golpe retratado no filme não é um caso único e já fez vítimas
aqui em Curitiba.
Em entrevista à Banda B, a
diarista Maria (nome fictício), de 55 anos, contou que foi enganada por um
golpista que conheceu em um app de relacionamento no final do ano passado.
“Conheci ele nesse app,
começamos a conversar e me interessei porque ele queria as mesmas coisas que
eu. Eu queria um namorado, não alguém que só quer curtir”, revelou a diarista.
Depois de algum tempo de
namoro, o homem teria pedido um favor à Maria. Ele queria financiar um carro no
nome dela.
“Ele disse que queria comprar
um carro, mas não no nome dele, porque as filhas dele eram umas sanguessugas. E
que ele tinha um dinheiro guardado, mas queria usar para comprar um apartamento
pra gente”, relatou.
O rapaz seria motorista e
estava frequentemente em viagens a trabalho com um carro alugado. A diarista
aceitou a ideia e depois o homem sugeriu a compra de mais um veículo.
“De repente ele resolveu que
precisava comprar outro carro pra alugar ele pra outro motorista. Ele queria
montar um negócio pra gente, a gente ia ser sócio. Eu ia ganhar dinheiro com o
aluguel do carro”, explicou Maria.
Ela não sabe ao certo quantos
carros foram financiados em seu nome pelo homem. Ela não tem mais notícias dele
desde a última quinta-feira (10).
“Ele mandou uma mensagem de
tarde dizendo que ia trocar o WhatsApp porque ele não aguentava mais as filhas
dele e o sobrinho que eram uns sanguessugas. Ele disse que mais tarde me
chamava no número novo e essa foi a última coisa que me escreveu”, concluiu a
vítima do golpista.
Maria não para de receber
ligações dos bancos cobrando o pagamento das parcelas do financiamento dos
veículos. Nesta terça-feira (15), ela decidiu denunciar o caso à polícia e
registrou um boletim de ocorrência na delegacia.
“Ele me induziu, me fez
acreditar que era um negócio para nós. Acho que desde o início ele já veio com
a intenção de me enganar e eu muito inocente caí direitinho. A gente namorou,
ele vinha na minha casa, mas eu nunca fui onde ele dizia que morava. Ele nunca
passou o endereço”, lamentou.
Entenda o ‘golpe do Tinder’
O delegado Emmanoel David,
Chefe da Delegacia de Estelionato de Curitiba, conversou com a Banda B sobre o
‘golpe do Tinder’ e explicou como tudo funciona. O crime acontece quando um dos
parceiros se aproveita da confiança conquistada no relacionamento para
conseguir dinheiro à custa do outro.
“Geralmente o estelionatário
procura a vítima pela internet e logo tenta demonstrar que tem renda, que é
advogado, engenheiro, assessor parlamentar, ou seja, tenta atrair a vítima com
uma posição de poder. Após criar um laço afetivo com a pessoa, depois de algum
tempo, ele começa a tentar ganhar dinheiro. O golpista afirma que teve bens
bloqueados por algum motivo, ou que seu limite foi cancelado, sempre inventando
desculpas para que a vítima realize empréstimos e ajude ele financeiramente.
Tudo isso com a promessa de que a vítima vai ser ressarcida dos valores”,
descreveu o delegado.
Segundo Emmanoel, a Justiça
vem entendendo que o alvo desse tipo de golpe pode ter direito a ressarcimento
e a prática é considerada crime de estelionato.
“Há um projeto de lei que
inclui no crime de estelionato uma causa de aumento para a modalidade amorosa.
É definida a conduta de quem induz a vítima com a promessa de constituição de
relação afetiva a entregar bens ou valores para si ou para outrem”, destacou o
delegado.
Em muitos casos, as vítimas
sequer comparecem a uma delegacia ou ingressam com ação civil, porque se sentem
envergonhada, revelou Emmanoel. Porém, o Chefe da Delegacia de Estelionato
defende que é muito importante que as pessoas compareçam à delegacia ou façam
um boletim de ocorrência online por estelionato.